18 julho 2009

Westmalle Trappist


Monastério de Westmalle.
Foto:
Danny Van Tricht.

Em 1791, durante a Revolução Francesa, Augustinus de Lestrang Dubosc, mestre do noviciado da abadia de La Trappe, deixou a França e foi para a Suíça. Lá ele se estabeleceu no monastério de Val-Sainte da ordem Cartusiana. Lestrange decidiu enviar monges para outros locais para ajudar a criar novas comunidades religiosas. Um grupo de monges que se dirigia para o Canadá recebeu um convite do Bispo da Antuérpia, Cornelius Franciscus Nelis, para construir um monastério trapista antes que partissem para seu destino. Eles construíram as fundações da atual abadia em Westmalle, região de Flandres no norte belga, em uma pequena fazenda cedida pelo bispo da Antuérpia em 1794. Os monges tiveram que deixar Westmalle ainda em 1794 devido à invasão de tropas francesas. Somente em 1802 eles retornaram e reestabeleceram o monastério.

Em 1836, o que na época era somente um priorado tornou-se um monastério trapista. Ainda em 1836, o abade Martinus Dom deu início à construção de uma pequena cervejaria e em 10 de dezembro do mesmo ano eles serviram a primeira cerveja durante o almoço, uma cerveja mais leve. Durante muitos anos eles fabricaram somente para consumo próprio, mas em 1856 eles começaram a vender a cerveja na porta do monastério. A demanda aumentou ano a ano e a cervejaria teve que ser expandida nos anos de 1865 e 1897.

Cervejaria do monastério de Westmalle.
Foto:
Danny Van Tricht.

No ano de 1918, durante a I Guerra Mundial a cervejaria foi fechada porque os alemães confiscaram os "brew kettles" de cobre. Somente em 1922 a atividade foi retomada. Uma nova cervejaria foi reconstruída e entrou em atividade no ano de 1934.

Além da cerveja, o monastério de Westmalle também fabrica queijo. As cervejas fabricadas por lá são a Dubbel, a Tripel e a Extra. Desde do ano de 1856 os monges já produziam uma cerveja escura, além da cerveja de mesa mais leve que era servida no almoço. Em 1926 a receita desta cerveja escura foi modificada para produzir uma cerveja mais forte e assim nasceu a atual Dubbel. A Westmalle Tripel é uma cerveja dourada e foi produzida pela primeira vez no ano de 1934, quando a nova cervejaria entrou em atividade. Sua receita permaneceu inalterada durante quase 50 anos até que foi reformulada em 1956. Ela é considerada a mãe de todas as Tripels, um estilo que está entre os meus preferidos. A Westmalle Extra é uma cerveja feita somente duas vezes por ano para consumo próprio dos monges e convidados durante os almoços.

Westmalle Dubbel e Tripel com a rara Extra no centro.
Foto: http://www.flickr.com/photos/grovlam/2206254564/in/photostream/


Westmalle Dubbel - Belgian Dubbel, Ale, 7% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Marrom avermelhada, turva.
Espuma: Boa formação e média/baixa duração, de cor bege, boa consistência.
Aroma: Malte, doce, pão, fermento, torrado, café, chocolate, leve frutado (ameixas).
Paladar: Malte, doce, pão, fermento, leve torrado, café, chocolate, frutado (ameixa), picante, amargo final, bom corpo.

Ótima cerveja. Apesar de não ser uma das mais complexas que já tive oportunidade de degustar, ela é muito bem feita. Está tudo muito bem integrado e em perfeita harmonia. Com bom corpo, boa aparência e boa presença de sabores e aromas: torrado, café, chocolate, picante, lúpulo, frutado. Cerveja agradabilíssima. Repetirei sempre que puder.


Westmalle Tripel - Belgian Tripel, Ale, 9,5% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Âmbar, turva, presença de pequenos sedimentos.
Espuma: Boa formação e média duração, de cor branca, boa consistência.
Aroma: Malte, doce, lúpulo, cítrico, frutado (laranja), fermento, pão, fenólico, picante, condimentado.
Paladar: Malte, doce, cítrico, frutado (laranja), fenólico, picante, leve álcool, amargor final de boa duração, alta carbonatação, ótimo corpo.

Ótima Tripel. Com certeza uma das melhores que já tive a oportunidade de degustar. Possui o mesmo aroma de fermento e pão encontrados na Dubbel. Este é o DNA das cervejas belgas: o fermento utilizado por cada cervejaria. Ela é bem fenólica e vai ficando cada vez mais à medida que ganha temperatura. Deliciosa. O frutado lembra claramente laranja, um doce de laranja. Dá vontade de comer a cerveja. Esta trapista é uma obra prima do mundo das cervejas. Lembro que esta foi a segunda Tripel que provei há mais de dois anos. Na época eu adorei e parece que ela continua a mesma.

Para ler mais sobre outros monastérios e outras cervejas trapistas clique aqui.

7 comentários:

Claudinei disse...

Grande Rodrigo!

A Westmalle é uma das maravilhas que eu pretendo provar antes de morrer, além da Westvleteren e do Ballantine's 30 anos :)

Eu li no site que a cor do açúcar utilizado determina a cor da cerveja, você já havia reparado nisso?

http://www.trappistwestmalle.be/en/page/suiker.aspx

Abraço!

Rodrigo Campos disse...

Olá Claudinei,

Não sei o motivo de você não ter provado a Westmalle já que é bem fácil de encontrá-las aí em SP. Durante a Brasil Brau encontrei elas no Empório Frei Caneca (22reais). Mas sei que tem também lá no Melograno, com a vantagem de tomar na própria taça. Quanto às Westvleteren eu também estou numa peregrinação por elas, mas não pelo preço que já vi por aqui!

Sabia que as belgas levam açúcar (candy sugar) para melhorar o corpo, mas não sabia que existe variação na cor deste açúcar específico. Dei uma lida no link.

Abraço.

Claudinei disse...

Tem razão, Rodrigo, já deveria ter provado, inclusive já deveria ter conhecido o Melograno do nosso amigo Edu Passarelli, mas minha namorada é bem enjoada, e meus amigos ainda não saíram da caverna socrática das "águas de batata". Acho que vou sozinho mesmo...

Mas, também, não tenho nenhuma pressa, tenho muita coisa boa pra provar em matéria de cerveja.

E quanto às Chimay, você já provou? Adorei a Triple e a Red, falta eu experimentar a Blue...

Abraço!

Rodrigo Campos disse...

Claudinei,

Já provei as Chimay sim. Todas as três. Gosto muito da Blue e da Tripel. As Chimay vão aparecer no blog a qualquer hora. Inclusive já tomei uma Chimay Blue 2004 neste ano. Vai para a coluna Direto da Adega (Vintage Beers).

Quanto ao Melograno do Edu, se eu fosse você iria logo pois tem muita novidade por lá. Vá sozinho mesmo. Também estou devendo uma visita por lá.

Abraço.

Anônimo disse...

Joao

Senhores, morram de inveja. Tive em Bruges em JUN/10 e não perdi a oportunidade de tomar várias "Tráppist Westmalle - Trippel e a "Duvel".
Sabor incontestável. A cor nos deixa de olhos brilhando. Fazia um calor infernal. Entrei em uma pequena loja especializada na "loirinha suada" e fiquei doido. Mais de 250 marcas diferentes. Não sabia por onde começar. Valeu a experiência.
Um grande abraço e boa sorte.

alfacinha disse...

Vivo a dois quilometros do mosteiro e sou amador dessa bebida sagrada.
Por isso me agradava muito ler o seu comentário sobre o trappist de Westmalle .A qualidade exelente de água que os monges usam para fazer cerveja é um facto que muitos esquecem.cumprimentos belgas de Westmalle ,

Rodrigo Campos disse...

Olá Alfacinha,

Já tinha visto seu blog antes. Acho que tem um link dele no blog do V de Almeida, não?

Deve ser muito bom do ponto de vista cervejeiro morar aí perto da fonte. Que inveja de você!

Um abraço.

Related Posts with Thumbnails